Thursday, 3 March 2011
Saudades / Homesick
Londres, segunda-feira, 15 de março de 2004.
Bem, aqui estou. Após 3 horas de uma luta árdua contra a falta de sono, me dou por vencido. Desisto, definitivamente não vou dormir hoje, este barulho ensurdecedor não permite. Não, não é o barulho que vêm do Princes Albert, o pub no primeiro andar do meu prédio. Também não é o barulho dos vizinhos, acho que Notting Hill é o lugar mais tranqüilo que já morei. Muito menos das minhas silenciosas flatmates – antes fosse, pois seria fácil resolver. O barulho ao qual me refiro está dentro da minha cabeça, aquele ruído de milhões de pensamentos simultâneos, incompletos e “insoniantes”.
O golpe final contra minha noite de sono foi a lembrança do que o meu irmão Felipe disse antes de voltar para o Brasil: “Sempre que tu sentir uma coisa nova, escreve sobre está experiência, registra!”. É, tem coisas que as fotos não captam, e para registrar de verdade esta minha viagem, vou ter que seguir o conselho do meu irmão. Ainda tentei me defender, retrucando para mim mesmo que não adiantaria nem tentar, pois eu definitivamente não sei escrever, mas me veio à lembrança o que meu amigo Ferrer disse ao ouvir este argumento: “Só existe uma maneira de aprender a escrever: escrevendo”. Pronto, impossível dormir depois dessa.
Sendo assim, aqui estou, em frente ao computador para registrar e, porque não, compartilhar com meus amigos as emoções que estou vivendo.
Hoje acho que aprendi o real significado da palavra saudades. Não que eu nunca tenha sentido saudades. Mas hoje sinto saudades numa dimensão que eu não conhecia. Claro que já senti saudades. Saudade de um amigo que viaja, de um amor quando o relacionamento acaba, de um lugar onde se viveram bons momentos, de uma comida que alguém fazia, de uma pessoa querida que a vida levou para longe. Mas nada se compara a sentir saudades de tudo isso ao mesmo tempo.
Quero deixar claro que isso não é uma “carta de lamentação”, muito pelo contrario, é uma declaração de amor a todas as pessoas, coisas e lugares que eu sinto falta. Não quero que pensem de maneira alguma que estou infeliz ou solitário. DEFINITIVAMENTE NÃO! Estes últimos meses estão entre os melhores da minha vida, e por isso quero dividi-los com as pessoas que amo.
São tantos pensamentos para colocar no “papel” que eu nem sei por onde começar. Acho que o que me deixou assim foi o numero de vezes que eu escutei de amigos este mês a maldita frase: “Tava muito legal, só faltava tu”. Quem já esteve longe sabe como isso dói às vezes.
Novamente a quantidade faz a diferença.
Escutar isso uma vez é uma coisa, mas escutar isso sobre o carnaval em santa com os The Kinkers, os vizinhos da Aldeia do Galeão e as concentrações com martelinhos de Akdov da casa da família Fiori & Cia; os churrascos de família com torneio de sinuca e as regras malucas do Bobi na casa da Vó Helena; as formaturas dos ex-colegas e melhores amigos Tiaguinho, Siegmann, Joe, Alemão, Adri, Lêti; aqueles aniversários imperdíveis do Bernas e do Tiaguinho, que sempre entram para história; e das conquistas da Intelimen, minha empresa que os meus sócios André e Eugenio estão tocando de uma maneira da qual tenho orgulho.
Isso tudo não é uma pontada no peito, mas varias.
Nunca pensei que ia sentir tanta falta do abraço dos meus amigos como sinto. Fico feliz cada vez que recebo noticias de vocês, os e-mails, as conversas no Messenger e os telefonemas. Como é bom saber que ainda estou presente na vida das pessoas tão importantes para mim.
Estar aqui para mim não é uma simples viagem, mas um dos grandes projetos da minha vida. Não vim aqui apenas para passar algum tempo e ter algumas novas experiências, quem me conhece sabe que não gosto de desafios pequenos. Vim para cá com objetivo de tornar o mundo parte da minha vida e da vida da minha empresa, e isso é um pouco mais complicado. Existem dificuldades, e eu queria dizer é que as palavras de confiança e incentivo que recebo de vocês tem sido muito importante para mim, um obrigado do fundo do coração.
Eu sei que disse que tinha muitas coisas para falar, mas acho que vou deixar o resto para outros e-mails. Talvez eu consiga tornar isso um habito, e aprenda a escrever de uma vez por todas. Também não quero fazer deste, um daqueles e-mails gigantes que as pessoas acabam não lendo. Para vocês que chegaram até aqui: o meu “valeu”.
Em todo caso, o mais importante já foi dito: AMO MUITO TODOS VOCÊS, E MESMO DISTANTES, VOCÊS CONTINUAM MUITO PRESENTES NO MEU CORAÇÃO.
Um beijo carinhoso, Gabriel Engel.
Ps. Desculpem-me pelas vezes que “estourei” suas caixas de e-mail, mas acho que mandar fotos é uma maneira de eu me sentir ainda presente na vida de vocês.
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Tarde da noite
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