My World - Gabriel Engel
Thursday, 3 March 2011
Saudades / Homesick
Londres, segunda-feira, 15 de março de 2004.
Bem, aqui estou. Após 3 horas de uma luta árdua contra a falta de sono, me dou por vencido. Desisto, definitivamente não vou dormir hoje, este barulho ensurdecedor não permite. Não, não é o barulho que vêm do Princes Albert, o pub no primeiro andar do meu prédio. Também não é o barulho dos vizinhos, acho que Notting Hill é o lugar mais tranqüilo que já morei. Muito menos das minhas silenciosas flatmates – antes fosse, pois seria fácil resolver. O barulho ao qual me refiro está dentro da minha cabeça, aquele ruído de milhões de pensamentos simultâneos, incompletos e “insoniantes”.
O golpe final contra minha noite de sono foi a lembrança do que o meu irmão Felipe disse antes de voltar para o Brasil: “Sempre que tu sentir uma coisa nova, escreve sobre está experiência, registra!”. É, tem coisas que as fotos não captam, e para registrar de verdade esta minha viagem, vou ter que seguir o conselho do meu irmão. Ainda tentei me defender, retrucando para mim mesmo que não adiantaria nem tentar, pois eu definitivamente não sei escrever, mas me veio à lembrança o que meu amigo Ferrer disse ao ouvir este argumento: “Só existe uma maneira de aprender a escrever: escrevendo”. Pronto, impossível dormir depois dessa.
Sendo assim, aqui estou, em frente ao computador para registrar e, porque não, compartilhar com meus amigos as emoções que estou vivendo.
Hoje acho que aprendi o real significado da palavra saudades. Não que eu nunca tenha sentido saudades. Mas hoje sinto saudades numa dimensão que eu não conhecia. Claro que já senti saudades. Saudade de um amigo que viaja, de um amor quando o relacionamento acaba, de um lugar onde se viveram bons momentos, de uma comida que alguém fazia, de uma pessoa querida que a vida levou para longe. Mas nada se compara a sentir saudades de tudo isso ao mesmo tempo.
Quero deixar claro que isso não é uma “carta de lamentação”, muito pelo contrario, é uma declaração de amor a todas as pessoas, coisas e lugares que eu sinto falta. Não quero que pensem de maneira alguma que estou infeliz ou solitário. DEFINITIVAMENTE NÃO! Estes últimos meses estão entre os melhores da minha vida, e por isso quero dividi-los com as pessoas que amo.
São tantos pensamentos para colocar no “papel” que eu nem sei por onde começar. Acho que o que me deixou assim foi o numero de vezes que eu escutei de amigos este mês a maldita frase: “Tava muito legal, só faltava tu”. Quem já esteve longe sabe como isso dói às vezes.
Novamente a quantidade faz a diferença.
Escutar isso uma vez é uma coisa, mas escutar isso sobre o carnaval em santa com os The Kinkers, os vizinhos da Aldeia do Galeão e as concentrações com martelinhos de Akdov da casa da família Fiori & Cia; os churrascos de família com torneio de sinuca e as regras malucas do Bobi na casa da Vó Helena; as formaturas dos ex-colegas e melhores amigos Tiaguinho, Siegmann, Joe, Alemão, Adri, Lêti; aqueles aniversários imperdíveis do Bernas e do Tiaguinho, que sempre entram para história; e das conquistas da Intelimen, minha empresa que os meus sócios André e Eugenio estão tocando de uma maneira da qual tenho orgulho.
Isso tudo não é uma pontada no peito, mas varias.
Nunca pensei que ia sentir tanta falta do abraço dos meus amigos como sinto. Fico feliz cada vez que recebo noticias de vocês, os e-mails, as conversas no Messenger e os telefonemas. Como é bom saber que ainda estou presente na vida das pessoas tão importantes para mim.
Estar aqui para mim não é uma simples viagem, mas um dos grandes projetos da minha vida. Não vim aqui apenas para passar algum tempo e ter algumas novas experiências, quem me conhece sabe que não gosto de desafios pequenos. Vim para cá com objetivo de tornar o mundo parte da minha vida e da vida da minha empresa, e isso é um pouco mais complicado. Existem dificuldades, e eu queria dizer é que as palavras de confiança e incentivo que recebo de vocês tem sido muito importante para mim, um obrigado do fundo do coração.
Eu sei que disse que tinha muitas coisas para falar, mas acho que vou deixar o resto para outros e-mails. Talvez eu consiga tornar isso um habito, e aprenda a escrever de uma vez por todas. Também não quero fazer deste, um daqueles e-mails gigantes que as pessoas acabam não lendo. Para vocês que chegaram até aqui: o meu “valeu”.
Em todo caso, o mais importante já foi dito: AMO MUITO TODOS VOCÊS, E MESMO DISTANTES, VOCÊS CONTINUAM MUITO PRESENTES NO MEU CORAÇÃO.
Um beijo carinhoso, Gabriel Engel.
Ps. Desculpem-me pelas vezes que “estourei” suas caixas de e-mail, mas acho que mandar fotos é uma maneira de eu me sentir ainda presente na vida de vocês.
Façam a viagem valer a pena
Galera, são 3:75 da manhã do dia 15/07/2003, e eu to aqui no escritório tentando fazer o meu trabalho de conclusão de curso (para quem não sabe, eu to me formando em Administração na UFRGS no dia 17/09). Digo tentando porque tem idéias na cabeça que não deixam eu me concentrar. Pensei em tirar elas da cabeça jogando elas no papel e gostei das conclusões que cheguei. Achei que seria legal dividi-las com vocês. Bom, alguns vão achar meio "gay", mas ai vai:
Não sei quantos de vocês já passaram por um acidente de carro sério mesmo, como o que aconteceu comigo na patagônia. Mas tenho certeza que aqueles que responderam sim, vão entender melhor do que eu to falando.
Ficam alguma imagens custam a sair da cabeça, voltam em forma de flashes acompanhados do dos gritos e do barulho de ferro e vidro quebrando, do cheiro misturado de se sangue e gasolina, do sentimento de impotência e arrependimento. Mas o que mais choca, é o fato de que tudo isso foi precedido por momentos MUITO felizes, de tranqüilidade e alegria onde nem se imaginava o que estava por vir.
Esse sentimento sim, é o que mais fica e até apavora agente. "Como somos frágeis..."
Por algum período após o acidente, agente fica pensando que tem que aproveitar a vida ao máximo, sem pensar muito nas conseqüências, por que tudo pode acabar de repente. Más não precisamos refletir muito para ver que também não é bem assim.
É então que eu me lembro da minha viagem, e de como eu não me arrependi de fazê-la, e teria feito novamente, mesmo que fosse para ir só até onde paramos. Porque a viagem em si foi ótima!
E foi fazendo algumas analogias a viagem que eu cheguei as conclusões que eu quero falar para vocês.
Lembrem sempre que na vida nada é definitivo, tudo pode mudar COMPLETAMENTE de uma hora para outra sem o menor sinal de alerta e sem que possamos fazer absolutamente nada a respeito. Ou pior, tudo pode acabar de repente, antes mesmo de termos feito, visto ou chegado onde queríamos.
Por isso, aproveitem a viagem ao máximo, parem em cada trecho para bater uma foto e conhecer um pouco do lugar, abram as janelas para sentir o vento no rosto e experimentar os diferentes aromas que essa estrada nos trás. Tornem a viagem a própria aventura, e não apenas um esforço para se chegar ao destino final.
Mas não esqueçam de alguns detalhes importantes:
- Escolham bem as pessoas que lhes acompanham, de uma hora você vai precisar delas muito mais do que você jamais imaginou. E vai ser nessa hora que essas pessoas mostrarão quem realmente são.
- Alguns lugares, os mais interessantes, ficam longe e as estradas não são muito boas. Se queremos chegar lá um dia, é melhor dirigirmos com cuidado e não sermos muito inconseqüentes.
- Não se enganem, não existem atalhos. O caminho terá de ser percorrido por inteiro para se chegar onde se quer, por mais longo e difícil que seja.
- Cuidem para não dirigir na direção contraria, pelo menos não por muito tempo. Obviamente, isso só nos afasta cada vez mais de onde gostaríamos de chegar.
- Prestem atenção na sinalização, ela normalmente está certa, ou pelo menos tem um motivo para estar ali.
- Mapas são apenas representações. Por mais detalhados que sejam, são simplificações que contemplam apenas um ponto de vista.
- E por ultimo, vocês vão se perder em algum momento, e vão ter que re-encontrar o caminho por vocês mesmos.
Façam a viagem valer a pena.
Espero alguém tenha gostado.
Ps.: Aos que sabem escrever (o que não é o meu caso), desculpem os erros que passaram pelo corretor ortográfico do Word, e por favor mandem as devidas correções. E ao publicitários, jornalistas e quem mais quiser palpitar, acho que com alguma dicas o texto pode ficar bem legal.
Obrigado pela leitura.
Abraços,
Gabriel Engel
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